tag:blogger.com,1999:blog-63347631402571930552024-03-05T11:46:39.047-08:00Vitrine NuaLuciannyM.http://www.blogger.com/profile/08347079334000217328noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-6334763140257193055.post-31425042421187504782020-04-22T15:50:00.004-07:002020-04-22T15:50:41.700-07:00Peregrinação<div style="font-size: 14px; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin: 0px; outline-style: none; outline-width: medium; padding: 0px; text-align: justify;">
<div style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin: 0px; outline-style: none; outline-width: medium; padding: 0px;">
Pra quê essa mania de viver fazendo bagagem de tudo? De ir
desbravando os caminhos e as possibilidades com as costas amontoadas com
o peso das vivências, das carências, das delicadezas e dos espinhos que se
somaram com os anos? <br />
E essa necessidade de guardar tudo em caixas, em museus, em
santuários que a gente adora revisitar sempre que precisa se sentir
humano e vivo? Algumas são desenhadas com o concreto da realidade, como aquela
em que eu guardo meus sonhos de criança. Outras são arquitetadas secretamente por baixo da
pele, escondidas a sete chaves no coração ou em qualquer canto recôndito
por baixo dos ossos.<br />
Guarda-se tudo que é sublime e belo, tão palpável como uma ferida
inflamada a excretar o pus e a dor para fora. Guardamos para sermos
instantâneos, incisivos, possíveis a qualquer instante. A ferida
incomoda quando cutucada, quando o sublime veste o vestido nefasto da raiva, da ira, do ranço pegajoso dos vales negros da mágoa. A ferida
pulsa em dor, se contorcendo banhada no gozo amarelo melindroso e nas
lágrimas escurecidas pelas nuvens negras. Lembra-se de tudo. Das faltas da infância, dos laços despedaçados pela natureza ambígua humana, dos votos e sonhos rasgados como o jornal de ontem. </div>
<div style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin: 0px; outline-style: none; outline-width: medium; padding: 0px;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix-9xOpzp2eKkbnwNb-fDcop_FhUn_ynoghlOMWJFiOj4wYF4ASMPCEOFzAyxQcz4X6SUhJS7tfHtpK5XlaKyOXgmsi510TH9_18w0qLrGTfiRtlx8VIlt9Em0pSwGkm3KBuKBtlea6g/s1600/download+%25283%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="230" data-original-width="219" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEix-9xOpzp2eKkbnwNb-fDcop_FhUn_ynoghlOMWJFiOj4wYF4ASMPCEOFzAyxQcz4X6SUhJS7tfHtpK5XlaKyOXgmsi510TH9_18w0qLrGTfiRtlx8VIlt9Em0pSwGkm3KBuKBtlea6g/s320/download+%25283%2529.jpg" width="304" /></a>
Guardamos tudo em um labirinto tão profundo, com raízes tão enérgicas e
viris, com correntes a caldear pitadas de sentimentos tão
freneticamente que desistir dos mortos parece sepultar a si mesmo e quem se foi
vivendo aquela história. Agora penso que o segredo para o sossego é ser
fragmentado, embaralhado, subdividido de tudo e eu, com essa minha ideia
fixa de ser inteira, só fito os meus próprios abismos. Preciso aprender a deixar quem
eu fui no passado e parar de resgatar através dos sentidos, das
lembranças de sorrisos e do salgado das lágrimas. </div>
<div style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin: 0px; outline-style: none; outline-width: medium; padding: 0px;">
Preciso me deixar levar como uma poesia escrita em um papel
levado pelo vento, sobrevoando o céu acima do mar como uma gaivota no fim da tarde. Preciso aprender a me
desapegar, a ressignificar, arrumar a casa e as caixas de vez em quando,
jogando dentro de um buraco negro tudo que precisa ser descartado, seja
sublime ou não, bonito ou feio, seja certo lembrar ou errado sentir.
Preciso abir as gavetas e atear fogo as cartas que eu poderia ter
recebido e nunca chegaram, as que eu poderia ter escrito, mas sabiamente deixei pelo meio do caminho, esquecer do que poderia ter sido e não foi, preciso da dádiva da
amnésia a desmontar os castelos, a pisotear as mesmas expectativas, as
bestiais esperanças e encarar o duro aço dos delírios reais, de tudo que
salta aos olhos e eu me nego a digerir. </div>
<span style="background-color: white; font-family: "Times New Roman", Times, FreeSerif, serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 1.4;">
</span><span style="background-color: white; font-family: "Times New Roman", Times, FreeSerif, serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 1.4;">
</span><span style="background-color: white; font-family: "Times New Roman", Times, FreeSerif, serif; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 1.4;">
</span><br />
<div style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; margin: 0px; outline-style: none; outline-width: medium; padding: 0px;">
Tenho um caminho longo a percorrer e prevejo serpentes e dragões
pelo deserto, mas continuarei caminhando por dias e noites, sozinha
nessa estrada, até que um oásis se desenhe diante dos meus olhos e eu
possa correr até ele e senti-lo em mim por completo, sentir toda a sua
realidade palpável em mim, em cada célula do meu corpo e no fim eu
poderei ser inteira de novo. Sem fugas, sem a infindável sabotagem.<br />
<br />
<br /></div>
</div>
LuciannyM.http://www.blogger.com/profile/08347079334000217328noreply@blogger.com0